sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Amor

O amor é um fardo pesado demais quando não se tem com quem compartilhá-lo.

Há quem diga que o amor é um sentimento bom. Não sei se chamaria de boa a sensação de incompletude experimentada por quem nunca esteve nos sonhos de alguém. Parece que nascemos com uma lacuna, um fardo a ser carregado. Com outras coisas em mente, podemos até nos esquecer temporariamente disso, mas cedo ou tarde esta idéia volta a ser importante. Aparentemente, o amor faz parte de nós, quer tenhamos alguém a quem amar ou não.

Talvez a única coisa boa que podemos associar ao amor sejam os momentos em que este fardo é compartilhado com alguém. Conseguimos olhar para a frente e a vida parece mais leve, podemos buscar outras coisas, pois antes não havia força suficiente.

Mas só podemos dividir esta carga com alguém enquanto estivermos no mesmo caminho. E não raramente a vontade de seguir o mesmo caminho se esvai. Quando nos damos conta, não estamos mais dividindo um fardo. Estamos carregando o nosso e o de mais alguém.

O tempo faz com que os sonhos mudem. Alguns ficam desbotados. Uns são esquecidos. Se o querer leva ao sofrimento, então o sonhar leva à frustração de acordar e se dar conta de quão longe estamos do que ainda há pouco era quase real. Para conseguir superar mais um dia só resta a esperança, refúgio dos desesperados. E, como bem disse alguém, "é terrível assistir a agonia de uma esperança" (1).

Segue assim a vida, amarga, atenuada por lampejos de doçura, que podem ser romantizados ou idealizados a tal ponto que podemos achar que a vida é doce. Doce ilusão que nos ajuda a manter a sanidade. Amarga lucidez que não nos permite esquecer de que estamos vivos. E que sofremos.

"Sobreviver é sofrer. Viver é encontrar uma razão para o sofrimento" (2).

(1) citação de Simone de Beauvoir
(2) citação de Friedrich Nietzsche

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