segunda-feira, 13 de julho de 2009

Bujas

Há pessoas que, por alguma razão misteriosa, estão sempre por perto quando precisamos de ajuda. São anjos da guarda de carne e osso, que nos fazem favores que seremos incapazes de retribuir à altura.

Ontem, 12/07, completei minha primeira corrida de 10 Km. Para quem corre há apenas quatro meses e nunca correu a vida inteira, considero uma vitória. Mas este post não é sobre mim.

Há pouco mais de 14 anos, em Fevereiro de 1995, logo após chegar à faculdade que incluía serviço militar obrigatório durate parte do primeiro ano, enquanto fazíamos um exercício de corrida, passei mal e tive que ser socorrido por um colega. O sargento encarregado pediu que meu companheiro de turma, Germano Bujão vulgo Bujas, me ajudasse a ir de volta ao acampamento enquanto os outros terminavam o exercício.

Algum tempo depois, já nos últimos meses do curso, em Novembro de 1999, era uma tarde de sábado silenciosa no alojamento. Eu estava desolado por não ter tido a disciplina de iniciar o meu Trabalho de Graduação a tempo e já fazia planos sobre como explicar à minha família que não iria participar da formatura em Dezembro. Mais um trabalho postergado. Mais sofrimento desnecessário, causado pela minha irresponsabilidade e pelo meu momento auto-destrutivo de então. Havia iniciado um rascunho, incluindo pequenas animações em Flash para ilustrar conceitos de engenharia de Controle. Tinha comprado um CD com músicas do Mantovani, muito utilizadas em desenhos animados. Naquele exato momento, eu estava testando uma pequena animação que tinha acabado de concluir e estava triste porque a tinha achado ridícula.

Curiosamente, naquele exato momento, eis que Bujas aparece na janela para bostejar e me perguntar o que eu andava fazendo. Mostrei a animação e ele "pilhou sinistramente", isto é, achou muito bizu o que acabara de ver e disse que era, sem dúvida, um TG muito diferente dos demais e que iria fazer sucesso com os professores. Era a injeção de ânimo que eu precisava. Em cerca de quinze dias recuperei a auto-confiança e dormi cerca de quatro horas por noite, apresentando meu TG com sucesso no dia 16/11/1999, quando eu fazia exatamente 22 anos.

Eu e Bujas nos formamos e tomamos rumos diferentes, mas mantivemos contato. Acompanhamos as mudanças de emprego, bostejamos sobre as alternativas, conflitos, planos para o futuro, assim como fiz com os demais amigos que consegui cultivar.

Em 2008 decidi mudar de carreira e abandonar, mesmo que temporariamente, a Engenharia de Computação, para tentar algo no Mercado Financeiro. Após ter feito alguns cursos e ter passado no CFA Level I, em Julho de 2008 conversei novamente com vários amigos sobre possibilidades. Para alguns deles, sequer cheguei a cogitar algum tipo de indicação ou mesmo pedir emprego. Infelizmente, de alguns que achava que eram realmente meus amigos, recebi respostas frias e indiferentes, mesmo que não fosse essa sua intenção. Estavam ocupados demais para tentar entender o que eu estava procurando e como poderiam me orientar.

Qual não foi minha surpresa quando o mesmo Bujas, trabalhando em uma empresa de modelagem e sistemas de risco, me convidou para conhecer esta empresa e me apresentou a um de seus fundadores, que me fez uma proposta formal de emprego, totalmente inesperada. Mesmo sem ter certeza sobre a minha experiência e o meu compromisso na nova área, ele se expôs perante seus colegas de trabalho e me recomendou, mesmo sem eu ter pedido uma ajuda neste nível. Apenas Bujas e mais um colega, Emílio, que nem era da minha turma, se prontificaram a me ajudar nesta nova empreitada.

Infelizmente, não foi dessa vez que trabalhamos juntos. Optei por continuar um tratamento de saúde e evitar me mudar para São Paulo, além de ter outros problemas pessoais para resolver antes de uma mudança tão radical.

Por fim, há alguns dias descobri que Bujas iria participar da corrida de 10 Km que seria a minha estréia nesta distância, a minha terceira corrida de rua, de fato. Combinamos de nos encontrar e corremos juntos todo o percurso, ele foi ditando o ritmo e me advertindo sobre quando dosar a energia e quando forçar um pouco mais. Sem esta ajuda, acho que não teria conseguido correr os 10 Km sem parar e fazer o tempo de 01:03:48 (9.4 Kph), que para alguém da minha idade, peso, tempo de treinamento específico para corrida e histórico de sedentarismo, é algo considerável.

Ontem, ao mencionarmos o evento de 14 anos atrás, me ocorreu que Bujas sempre esteve por perto e sempre esteve disposto a me ajudar, de forma voluntária e sem esperar nada em troca. Mesmo que eu nunca mais venha a receber um favor dele, posso dizer que tenho muita sorte de ter um amigo capaz de fazer algo tão importante e tão nobre por mim. Espero que algum dia fazer jus a esta sorte, seja retribuindo ao próprio Bujas ou a algum outro amigo que precise de ajuda.

Caro Bujas, lembre-se de que tem dias em que tudo está cinza mesmo e não há muito o que fazer. Mas, de alguma forma, sem merecermos e sem esperarmos, sempre acontece algo que nos ajuda a ver novamente as cores da vida. É algo mágico que nos faz acordar e ver o momento presente, superando tristezas que o tempo ajudará a ver que eram necessárias. Este "algo a mais" virá através de uma outra pessoa, de um livro, de uma música, de um sonho, de um cheiro... de qualquer coisa que realmente notemos, ao calar a mente e ignorar o instante que acabou de passar e o segundo que ainda está por vir. Tudo a seu tempo.


Germano Bujas - 12/07/2009 (eu estou à esquerda, cortado ao meio)

2 comentários:

  1. Grande Ileu (agora Planeta ANÃO),

    Nesse dia do acampamento eu me revezei entre amparar você e o Yasuda.

    Bons tempos... abraço, meu amigo.

    PradoLEU.

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  2. Difícil expressar a admiração a um cidadão realmente talentoso em multiplas dimensões sem ser piegas ou mesmo incompleto.
    É essa admiração que sinto pelo amigo Isac.

    Mesmo sem conhecer o Bujas, pelas palavras e pela associação, expresso aqui minha admiração a ele também.

    Este seu post me trouxe uma motivação inesperada nesta tarde de sexta-feira. A honestidade e a franqueza com que são colocadas as mais genuínas expressões de generosidade serviram para mim como uma injeção de ânimo, que aqui honro e agradeço.

    Duran

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