sábado, 18 de julho de 2009

Vermelho ou Verde?

Ontem à tarde fui ao centro da cidade comprar luvas de lã. Há alguns anos, quando ainda estava na faculdade, nas tardes livres de sexta-feira, eu costumava ir a pé até esta região, para ir comprar CDs em uma loja que ficava por lá. Eram momentos especiais em que eu tinha a oportunidade de ver pessoas normais, que nasceram e/ou viviam na cidade há algum tempo, cujas vidas tinham uma rotina totalmente diferente da minha, isolado em um alojamento estudando e tendo aulas a maior parte do tempo. Por um instante, eu podia esquecer tudo e fingir que era apenas um morador "nativo" da cidade, com preocupações comuns.

Tive a oportunidade de recordar um pouco destas tardes ontem. Parei o meu carro um pouco longe de onde eu queria ir e fui caminhando um pouco, às 2 e pouco da tarde, com sol tímido. Caminhei um pouco e encontrei as luvas e gorros que procurava por uma pechincha. Observei as pessoas. O calor misturado com o frio. As figuras pitorescas que costumam rondar os centros de todas as cidades. A praça. Os policiais fiscalizando o trânsito e os pedestres. Os semáforos.

Foi quando vi a mudança na cor do semáforo que lembrei de algo que me ocorreu há muito tempo atrás, quando eu estava na quarta série primária, mas que me marcou. E que me ensinou uma lição crucial. A professora fez uma pergunta simples: em qual cor devemos atravessar o sinal? Todos responderam em uníssono: verde. Todos, exceto eu, que falei bem alto "vermelho". Todos riram e olharam admirados para mim, o CDF da classe (já era CDF no primário, fazer o quê) cometendo um erro.

Fiquei com vergonha, mas falei apenas o que a minha mãe tinha me ensinado. Olhe lá pra cima, quando o sinal ficar vermelho e os carros pararem, você pode atravessar. Insisti de que deveríamos atravessar no vermelho, pois confiava mais na minha mãe do que na minha professora. Meus "colegas" riram mais ainda da minha "incapacidade de aprender" e reconhecer que eu estava errado. A professora talvez não tenha entendido que eu me referia aos semáforos dos carros e não dos pedestres. Estes últimos eram mais raros na cidade onde eu morava. Mas tudo tinha que ser ensinado exatamente como nos livros. Independente da nossa realidade específica.

Foi a primeira vez na minha vida na qual me defrontei com a incapacidade e o desinteresse das pessoas em questionarem verdades absolutas. Quem tivesse o mínimo de bom senso pensaria em termos do contexto da minha afirmação. Tive que dizer que errei e repetir para a professora que devemos atravessar no "verde". Tive que fingir que era "normal" ao invés de lutar para dizer que não era uma questão de ego mas sim de ponto de vista, para que o assunto fosse encerrado.

Mal sabia eu quantas vezes esta situação iria se repetir na minha vida. Quando as coisas que você diz para outros parecem não fazer sentido algum para eles, simplesmente porque não estão olhando pelo mesmo prisma que você. Não é que você seja melhor ou pior, mas sim uma questão de sintonia. De saber ouvir e de querer entender o que o outro quer dizer. Isto é comunicação. Mas hoje diálogos se tornaram conjunções de monólogos. Poucos ouvem o que os outros dizem.

A pior parte é quando você tem que admitir que está errado mesmo sabendo que não está. Que não é uma questão de certo ou errado, mas sim de uma visão mais abrangente do que se está discutindo.

Foi apenas uma lembrança. De um momento triste. Em que lembrei de como os seres humanos, mesmo crianças, podem fazer com que você se sinta mal, gratuitamente. Para mostrar como você é vulnerável e enfatizar os seus erros. É bem mais fácil e até divertido jogar pedras do que fazer algo construtivo.

Encerro este post com algo que um bom professor me ensinou no último ano de faculdade, não sei de onde ele tirou, fico devendo a fonte:

Quem não tem conhecimento, mas tem poder DESTRÓI.
Quem não tem conhecimento e não tem poder CRITICA.
Quem tem conhecimento, mas não tem poder ENSINA.
Quem tem conhecimento e tem poder CONSTRÓI.

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